A importância da Eco sustentabilidade para o futuro do planeta
O alerta dura mais de 30 anos, e ainda assim muitos não dão atenção ao meio ambiente. Henrique Cortez explica o que fazer e o que não fazer para que o planeta caminhe de forma saudável
Henrique Cortez é jornalista, ambientalista e coordenador editorial do Portal Ecodebate. Henrique é determinado e preocupado com o destino do planeta, suas respostas evidenciam que se a preocupação com o meio ambiente não for levada à frente de maneira séria, arcaremos com o esgotamento dos recursos naturais e a pobreza, que na verdade é resultado do consumo desenfreado de uns poucos em detrimento da falta de recurso de outros. Se você ainda pensa que o assunto é papo de "ecochatos" leia a entrevista abaixo:
O termo "sustentabilidade" vem sendo cunhado por especialistas desde os anos 70. O que mudou desde então? O conceito vem se adaptando?
Henrique Cortez: O conceito de sustentabilidade surgiu como um parâmetro, como um limite ético para o desenvolvimento a qualquer custo, cujos resultados do métodos predatórios já eram amplamente conhecidos.
A lógica inicial era impecável, afinal, era evidente que o modelo de desenvolvimento baseado em produção e consumo infinitos não funcionaria por muito tempo.
No entanto, o conceito tornou-se um consenso oco com o qual todos concordam, mas ninguém pretende mudar o modelo.
E, a partir de 1998, tornou-se vazio, porque o atual nível da crise socioambiental é irreversível, salvo se a economia mundial for reconceituada. Redesenhar a economia mundial seria um feito inédito e só poderia acontecer com maciço apoio social e realizado coordenadamente por todos os países. Ou seja, não irá acontecer. De qualquer forma, precisamos debater estes temas e encontrar as alternativas mais viáveis enquanto ainda temos tempo
Qual o melhor exemplo de projeto de "Desenvolvimento Sustentável" que você viu dar certo?
Henrique Cortez: Nos setores de indústria e comércio encontramos apenas casos episódicos de greenwashing. O mesmo na agricultura.
Em termos reais, apenas as experiências agroecológicas são efetivamente sustentáveis. É uma prática agrícola com enorme potencial, mas, literalmente, desprezada e ignorada pelo modelo atual.
Como você vê o Brasil inserido no contexto da Eco Sustentabilidade?
Henrique Cortez: É de se lamentar que um país como o Brasil, que possui todos os recursos e oportunidades para liderar uma nova concepção de desenvolvimento, mantenha-se no curso de uma economia predatória.
E, o que é pior, assumindo uma posição de destaque como exportador de commodities, produtos primários e semi-acabados. Cinco commodities garantem 43% da exportação do Brasil.
E o aproveitamento de nossos recursos hídricos?
Henrique Cortez: O Brasil possui um dos maiores potenciais hídricos do planeta e, também nisto, age de forma insustentável e irresponsável.
Uma das maiores perdas ocorre exatamente porque a commodities são as maiores sugadoras de água doce do mundo. Nesta situação o Brasil é o maior exportador mundial de água virtual e não cobra pela água que exporta.
Além do mais, 70% da demanda de água ocorre na agricultura e, no nosso caso, com um desperdício médio de 40%.
Jogamos fora muita água e exportamos boa parte através de produtos.
É perigoso usar o "eco sustentável" apenas como etiqueta? Como o grande público pode perceber que empresas são realmente comprometidas?
Henrique Cortez: O público pode facilmente reconhecer as empresas ambientalmente responsáveis das são predatórias ou apenas usam recursos de greenwashing.
O problema é que ele não se importa. Inúmeras pesquisas demonstram que os brasileiros sabem da importância do consumo como ato político e econômico, mas não liga para isso.
Comumente, associamos o consumo ético a um ato individual de consciência, uma opção pessoal, mas ele também deve ser considerado em suas dimensões econômicas e políticas. Vivemos em um planeta finito e com recursos naturais igualmente finitos. No entanto, o nosso modelo econômico é baseado em produção e consumo infinitos. É evidente que este modelo não funciona por muito tempo. Além de ambientalmente irresponsável, este modelo também é socialmente injusto e economicamente excludente porque apenas atende à sanha consumista de uma fração da população. Dois terços da população mundial estão muito abaixo desta linha de consumo, nada usufruindo, mas arcando com os custos sociais e ambientais da degradação do meio ambiente e do esgotamento dos recursos naturais.
Qual seria a solução sustentável para uma economia que cresce cada vez mais, que tem como base a exploração de todos os recursos naturais e que estimula o consumo desenfreado? Parece incoerente. É possível?
Henrique Cortez: A opção real e atual é o decrescimento econômico socialmente sustentável.
Ou, na definição de Joan Martinez Alier, Professor de Economia e História Econômica na Universidade Autônoma de Barcelona, “uma economia que satisfaça de modo sustentável as necessidades de alimentos, saúde, educação e habitação para todos, proporcionando a máxima joie de vivre (alegria de viver) possível.”
Revisar o modelo não só é possível, como absolutamente necessário. Não chegaremos ao século XXII produzindo e consumindo sem limites.
Quais são as dicas para quem quer ser sustentável no dia a dia?
Henrique Cortez: O que hoje se convenciona chamar de consumo ético deve ser encarado como conservador em relação à manutenção do modelo consumista. Assim posso consumir irrestritamente, porque me justifico através do consumo ético. É uma forma de “indulgência” ao “pecado” do consumo. O consumo ético só será transformador se ele questionar o modelo consumista, assumindo sua dimensão coletiva e política em relação ao modelo econômico, às formas de produção e ao sistema político de sustentação. É necessário questionar a quem serve este modelo e a quem beneficia.
Volto à crítica do consumo ético individual, porque isoladamente nada questionamos, além de nossas escolhas pessoais. É necessária uma atitude politicamente ativa, lúcida e responsável que realmente questione o modelo atual. Não é fácil nem simples, porque serão exigidas profundas transformações, que modificarão as relações de trabalho e consumo. Na realidade, precisamos construir uma nova sociedade, com um novo modelo econômico. Voltando ao tema central, não teremos um futuro minimamente aceitável sem uma profunda revisão dos conceitos, fundamentos e modelo da economia. E não faremos esta revisão sem uma clara compreensão de nossa responsabilidade em termos de cidadania planetária.
Em primeiro lugar, precisamos abandonar o consumismo insustentável,optando por apenas consumir o que efetivamente for necessário. Nada mais.
O consumo é um ato político e econômico e, neste sentido, deve ser ético, responsável e sustentável. O consumo só é ético se for sustentável e isto só ocorrerá com uma gigantesca redução do consumo global. O planeta, por exemplo, já soma mais de um bilhão de veículos, das scooters aos mega caminhões. Vamos imaginar, além do consumo de combustíveis e emissão de gases, o que esta frota significa em termos de energia, água, mineração, siderurgia, recursos naturais consumidos etc. Isto é insustentável sob qualquer perspectiva. Então, este novo modelo deve significar uma nova forma de organização, produção e consumo. Se isto tornar-se uma posição firme e clara por parte da sociedade, ocorreriam grandes transformações sociais, políticas, econômicas e ambientais. Assim, talvez, consigamos chegar ao século XXII.
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