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Lya Luft: "Pais que não leem terão, em geral, filhos desinteressados em livros." (Entrevista 2005)

Lya Luft, escritora e tradutora brasileira, concede entrevista ao Saude e conta sobre seus hábitos para escrever, suas inspirações e como faz para manter a saúde

“Fico fechada em meu pequeno escritório, rodeada de livros e ouvindo música”. É assim que Lya Luft, uma das mais importantes escritoras brasileiras, escreve seus romances, sucesso de crítica e público e cujos livros são constantemente reeditados. Desde 1980, quando publicou o livro “As Parceiras”, a escritora Lya Luft vem obtendo sucesso em sua carreira literária. “Perdas e Ganhos” foi um dos livros mais bem sucedidos no Brasil, em 2003, e que desbancou Paulo Coelho da lista dos mais vendidos.

Entre a fantasia e a realidade, Lya escreve sobre a solidão, o amor, a perda, os sonhos e o desencontro e, através de uma linguagem simples e sutil, prende a atenção do leitor. Talvez porque seu público se identifica com os personagens de seus livros, mas o fato é que sua literatura gera reflexão tanto no público feminino como no masculino e inclui fãs de todas as idades.

No ano passado, a escritora estreou na literatura infantil ao lançar “Histórias de Bruxa Boa”, inspirado em histórias que contou para sua neta Isabela. No livro, há ilustrações de Susana Luft, mãe de Isabela e filha de Lya, que é pintora e pediatra. Lya disse que se divertiu muito escrevendo este livro e que, em breve, lançará “Histórias de Bruxa Boa 2”.

Nascida no dia 15 de setembro de 1938, no Rio Grande do Sul, a escritora Lya Luft iniciou sua vida literária nos anos 60, como tradutora de autores de língua inglesa e alemã, dentre os quais Brecht, Virginia Woolf, Hermann Hesse, Thomas Mann e Günter Grass. Lya é formada em letras Anglo-Germânicas e com mestrados em Literatura Brasileira e Lingüística Aplicada. Atualmente, Lya mantém uma coluna na revista ‘Veja’, que atinge um público em potencial de quatro milhões de leitores. É a primeira colunista mulher da revista. Confira, a seguir, a entrevista exclusiva que a escritora concedeu por e-mail ao Portal Saude.

Lya acaba de lançar “Para não dizer Adeus”, livro que marca o seu retorno à poesia e que reúne poemas antigos e outros mais recentes e inéditos. Mais uma vez, seus leitores vão encontrar material para reflexão de questões do seu cotidiano: a relação entre pais e filhos, a relação entre amantes, o medo da morte e as dificuldades em aceitar a perda, entre outras.

 

Além de escritora, a Sra. é tradutora. Como é a sua rotina quando está traduzindo uma obra?

Lya Luft: Ultimamente eu não traduzo mais, porém a rotina é mais dirigida por mim quando eu traduzo. Faço isso várias horas por dia, pois tenho um contrato a cumprir. Livro meu, escrevo conforme o livro quer ser escrito.

 

A Sra. já traduziu o próprio livro para outra língua?

Lya Luft: Não, porque eu acho que o tradutor deve ter a língua de chegada como língua materna, e a minha é o português.

 

Segue algum ritual para escrever?

Lya Luft: Fico fechada em meu pequeno escritório, rodeada de livros e ouvindo música. Uso o computador há uns dez anos. Nada de muito complicado.

 

A Sra. declarou uma vez que escreve “para tentar entender a vida, o mundo”. Depois de pouco mais de 20 anos, quando publicou o primeiro romance, “As Parceiras”, em 1980, continua escrevendo para tentar entender a vida? O que mudou nessas últimas duas décadas?

Lya Luft: Muita coisa mudou. A vida é fascinante e vertiginosa, mutação permanente, mas, graças a Deus, a gente nunca acaba de entender ou tudo perderia a graça.

 

Em 2004, escreveu “ Histórias de Bruxa Boa”, estreando na literatura infantil. Pretende escrever mais para as crianças? Como foi esta experiência?

Lya Luft: Sinceramente, “Histórias de Bruxa Boa” não é bem infantil, mas vi isto depois de publicado (antes uma fábula), pois muitos adultos lêem e compram para si. Estou escrevendo “Histórias de Bruxa Boa 2”. Diverte-me imensamente.

 

Que livros leu na infância?

Lya Luft: Uma infinidade, pois na minha casa todo mundo lia: meus pais, minhas tias e meus avós. Havia muito livro e era meu brinquedo predileto. Marcaram-me sobretudo todos os contos de fadas de Grimm, Andersen e Monteiro Lobato. Queria ser a Emília, claro.

 

Na sua opinião, a escola de hoje incentiva o hábito da leitura?

Lya Luft: Eu percebo que eles procuram fazer isso, sim. Mas a família é fundamental: pais que não lêem terão, em geral, filhos desinteressados em livro.

 

Por que parou de dar aula? A Sra. pode falar um pouco sobre a sua vida acadêmica?

Lya Luft: Gostei dos alunos, gosto de gente. A vida acadêmica me cansa e entedia. Para mim, reuniões de departamento são um desastre, é muita falação e obtém pouco resultado. Caderno de chamada, dar nota, etc., são muito chatos e irreais. Na verdade, a escola e principalmente a universidade não deviam ensinar, mas estimular o aluno a descobrir. Seriam muito mais interessantes, sérias e exigentes. Hoje em dia, tratamos a criança e o adolescente como se fossem bobos.

 

Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, é uma cidade de colonização alemã. A literatura e a cultura alemãs lhe influenciaram?

Lya Luft: Naturalmente, nossa biblioteca tinha muita literatura alemã e russa (em alemão). Por exemplo, li os russos todos em alemão. Algo dessa cultura alemã pode ter me influenciado e influencia até hoje, claro. Não sei em quê.

 

O que lhe dá mais prazer, traduzir, ler ou escrever um livro?

Lya Luft: Tudo isso, cada coisa com um encanto diferente e especial.

 

A maturidade mudou sua maneira de escrever?

Lya Luft: A passagem do tempo deveria nos tornar melhores pessoas e melhores profissionais, mas eu mesma não percebo isto. Estou apenas mais relaxada, no sentido de menos tensa. Cada vez gosto mais de escrever.

 

Que cuidados a Sra. tem com a saúde?

Lya Luft: Caminho quase diariamente, quase não bebo, como comida razoavelmente saudável (pouca fritura, por exemplo), não fumo e gosto da vida.

 

O que você procura fazer no dia a dia para ter uma boa qualidade de vida?

Lya Luft: Ficar o mais recolhida possível, curtir a família, as amizades, ser amorosa, tranquila e alegre. A alegria é um excelente remédio. Não badalo, não “caio” na noite, gosto de um bom papo, um bom filme, tranquilidade, praia, caminhadas junto ao mar, etc.

* Esta ferramenta não fornece aconselhamento médico. Destina-se apenas a fins informativos gerais, não pretende concluir nenhum diagnóstico e não aborda circunstâncias individuais. Não é um substituto do aconselhamento ou acompanhamento de profissionais da saúde. Alertamos que o diagnóstico e o tratamento não devem ser baseados neste site para tomar decisões sobre sua saúde. Jamais ignore o conselho médico profissional por algo que leu no www.saude.com.br. Se tiver uma emergência médica, ligue imediatamente para o seu médico.

Esta matéria pertence ao acervo do saude.com.br

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