“Eu fui uma treinadora muito dura, mas uma treinadora de resultados”: Entrevista com Georgette Vidor
Com uma história de vida de garra e superação, Georgette Vidor é a atual coordenadora técnica do time de ginástica artística do Flamengo
Georgette Vidor Mello, carioca de 63 anos, é ex-treinadora da seleção brasileira de ginástica olímpica. Após sofrer um acidente que a deixou paraplégica em maio de 1997, aos 39 anos, ela não deixou os obstáculos guiarem a sua vida. Atualmente trabalha como coordenadora técnica do time de ginástica artística do Clube de Regatas do Flamengo, onde grandes nomes do esporte já passaram por sua supervisão.
Iniciando a conversa sobre a sua carreira, a coordenadora técnica conta que começou nesse esporte muito cedo, como ginasta no Flamengo e, em seguida, no Fluminense. Ao longo das aulas, seu antigo professor notou que seu verdadeiro talento era ensinar. “O meu professor viu que eu tinha talento para dar aula, que cada vez que ele descia para tomar um cafezinho, eu dava aula para as meninas que faziam ginástica comigo. E aí comecei com 15 anos. Eu fiz um trabalho muito especial, porque escolhi a dedo as garotas e, com 19 anos, já tinha feito a primeira campeã estadual [Luísa Parente]”, relata Georgette.
Além de Luísa Parente, outros grandes nomes da ginástica já passaram pela treinadora, como Rebeca Andrade, Jade Barbosa e Daniele Hypólito. Ao ser perguntada sobre como era sua relação com as alunas antigamente, ela responde: “Eu sempre fui muito difícil como treinadora, muito rígida, muito perfeccionista. Na realidade, acho que se eu desse treino hoje, a gente teria muita dificuldade de relacionamento. Tive que me reeducar, o mundo é outro, as crianças são outras, as famílias são outras. A internet crucifica, se você fala alguma coisa, já te põe como monstro. Hoje em dia, tudo que você fala, pode ser visto de alguma outra forma. Então, fui uma treinadora muito dura, muito exigente, mas uma treinadora de resultados”.
Georgette também reitera a importância da disciplina e do compromisso para o esporte e a relação atleta-treinador funcionar, afirma que foi dessa forma que criou suas ginastas e é assim que ainda trabalha como coordenadora técnica. “Acho que as lembranças e as memórias que minhas atletas tem de mim, na sua grande maioria, são memórias de alguém que lutou muito para que elas fizessem o melhor que pudessem”, acrescenta.
A ex-ginasta afirma ter sido a precursora da ginástica brasileira no âmbito internacional. Por ter desenvolvido o esporte no país, revelado Luísa Parente, conquistado as primeiras medalhas de ouro do Brasil no jogos pan americanos de Cuba e a primeira medalha do mundo com a Daniele Hypólito, Georgette relata que abriu muitas portas, não apenas para os ginastas, mas também para uma coleção de treinadores apaixonados pelo esporte, fazendo com que a ginástica ganhasse mais espaço e se tornasse mais popular no Brasil, sobretudo no estado do Rio de Janeiro, através de diversos projetos sociais.
Georgette Vidor declara que ter ajudado a desenvolver a ginástica olímpica no país é o maior motivo de orgulho de toda a sua carreira. “Claro que eu tenho orgulho da medalha mundial, das panamericanas, dos jogos olímpicos… Mas o que eu tenho mais orgulho é de ter escolhido esse esporte e de ter ajudado o Brasil a desenvolvê-lo. Eu tenho certeza que se alguém for falar da história desse esporte no país, vai ter que falar da minha atuação, como treinadora, como coordenadora ou como pessoa que lutou para que esse esporte fosse respeitado e querido pelo nosso povo. Acho que esse é o maior orgulho de todos”, argumenta.
Além disso, a ex-treinadora da seleção brasileira explica como a influência de uma boa saúde física e mental é determinante para a performance dos atletas, principalmente os atletas olímpicos, que lidam com muita exigência e treinos de alta intensidade. “Chega uma hora que as pessoas não aguentam. Elas falam ‘eu quero dar uma parada, não quero ter aquela rotina de todos os dias ir treinar numa intensidade alta’. É difícil mesmo, é cansativo”.
Ela explica, ainda, que é necessário uma equipe multidisciplinar para o sucesso de um atleta, com médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, massoterapeutas… Além de psicólogos, visto que a saúde mental é tão importante quanto a física para um bom desempenho. “Não dá mais para treinar alto rendimento achando que, de uma maneira muito empírica, você vai fazer um campeão olímpico. Você precisa ter realmente condições de conhecimento científico, para fazer com que aquele potencial atleta chegue no ponto mais alto que ele pode, com toda a infraestrutura que ele precisa: saúde mental através do psicólogo, cuidados médicos com as lesões, alimentação sadia com a nutricionista, amparo das salas de musculação, para que dê os respaldos físicos”.
Georgette Vidor também declara que, atualmente, o Brasil é o 14° país do mundo olímpico e o 7° do paralímpico, e tem uma estrutura boa em relação à confederação, com um comitê olímpico de alto nível. Contudo, ainda faltam investimentos em áreas básicas. “O que nós não temos é estrutura de formação. Poucos clubes formam atletas e tem estrutura como o Flamengo tem para desenvolver o esporte de alto nível”, finaliza.
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